sábado, 24 de abril de 2010

Está atrasado. Mais uma vez, atrasado. E só posso eu, então, estar cansada. Cansada de esperar que passes pela porta a fim de fazer-me alguma companhia. Mesmo vendo ser repetida a sua ausência, tornei a esperar de novo e de novo por presença que fizesse aquecer os lençóis claros de minha cama e os músculos tencionados do meu coração. E mesmo que chegues, enfim, não há calor que me faça não prever tua nova ausência e teu novo atraso e minha nova solidão.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

O quarto, a cama, as minhas mãos. O cheiro de sexo parece exalar-se ainda tão vivo quanto a lembrança de todo o nosso ato de amor. Ainda é possível sentir tua coxa roçando em meio as minhas, que lhe abriram caminho sem qualquer dignidade. Ainda é possível sentir as tuas costas arderem por entre os meus dedos que tão forte imprimiam na tua pele a intensidade do meu desejo. Ainda é possível sentir a umidade da tua boca percorrendo por entre minhas pernas sem saber se era saliva tua ou gozo meu. Por todas essas imagens que tão reais ainda me queimam, não há palavras outras que me inundem a garganta se não mil maneiras de lhe suplicar que voltes ao quarto, a cama, as minhas mãos e faço-me novamente tua.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Perguntaram-me se a loucura é pré-requisito para a escrita, pois bem digo: os que carecem de sanidade sentem de uma diferente forma e talvez seja esta forma a melhor. Talvez seja a loucura o estômago único a digerir a verdade do que é sentir. Talvez seja a loucura a garganta única a escarrar no papel as dores da alma. Ou talvez estas nada sejam, além de insanas palavras.

domingo, 4 de abril de 2010

O estalar das gotas de chuva e o frio acinzentado que nesse momento me causam estranhamento, por acaso, são o que me faz não querer partir. Tudo estaria gelado e vazio, não fosse o amor quente de mãe que cheira a chocolate meio-ao-leite e meio-amargo. Não falta colo e cafuné e beijos estalados com gosto de saudade querendo me dizer: não vá! E o que sobra em mim é puro saudosismo e nostalgia, é vontade de mais uma vez chamar de lar um lugar que não me é mais.