Tomou as palavras minhas e as transformou em beijos. Minha língua apenas fala a tua. O meu silêncio só diz do meu desejo e o meu desejo só diz do cheiro da tua pele. A minha vida tem brotado pelos poros do teu corpo, suado junto ao meu, e se esvai a cada vez que meus olhos se fecham num infinito vazio de ti. Ri de mim quando digo que meu coração aperta de saudade a cada noite que a escuridão me rouba tua imagem. Mal sabes que é a tua vista que descansa a minha existência. Pois, se antes me exauria buscando o inalcançável, agora estou saciada pelo colo teu.
terça-feira, 24 de setembro de 2013
sexta-feira, 30 de agosto de 2013
Sonhei: sai do banheiro e me esperavas sentado na beira da cama. Ainda nu e ereto.
Acordei: ainda com o dia escurecido e o vento gelado e a rua silenciosa e o desejo pulsando. Não quis acender a luz da sacada, não preciso da companhia de nenhum olhar. Junto com a fumaça do meu cigarro, tentei tragar a tua presença. O que consegui foi nada. Tento agora me lembrar do sonho. Mas sequer me lembro do timbre da tua voz. É possível que eu a tenha sonhado? Meus cigarros tem se acabado rapidamente. Duram menos que o tempo de pensar naquilo que, entre nós, teria sido verdade. Mas a verdade não existe. E a única realidade que tenho de ti é o vício ao qual me devolveu.
domingo, 25 de agosto de 2013
quarta-feira, 21 de agosto de 2013
A minha língua não é a mesma da qual falam os linguistas. Minha língua é de uma imperfeição que a torna incompreensivelmente limitada. Se tentas me ler, conforme-se: o que digo não lhes é acessível. A língua é demasiadamente humana para conseguir me expressar por completo, pois por dentro sou bicho, animal selvagem, que tem por única linguagem seus rugidos desejosos. Assim, me ouça em cada uma de minhas vírgulas, em cada um de meus pontos e em cada pausa de minha respiração. Pois é apenas no meu silêncio que poderá sentir a rouquidão do meu peito de fera. Peito que não mais ruge por ter se acostumado à angústia desta coleira de língua, que inutilmente lhes tenta falar.
segunda-feira, 12 de agosto de 2013
Cada um tem a barata que merece:
Eu percebo que
ele se arrasta pelos cantos do quarto. Os outros diriam que animal
não poderia ser, pois o apartamento é novo/limpo demais para. Mas
eu sei que ele está. Posso ouvir como ele abre espaço por caminhos
que não o querem, mas que mesmo assim ele penetra. Me pergunto se
também sente-se acuado. Deve ter prazer em me fazer assim. Eu queria
dizer que ele não me incomoda e nem perturba. As perturbações que
me causa são de outra ordem que não o desconforto. É que me faz
não-sozinha, algo que há muito passei a desconher. Mas essa
palavra realmente existe? Não sei por quanto tempo ele ainda fica.
E se nunca tivesse estado aqui? O problema dos animais é que sempre
nos deixam marcas. Se mover cada móvel adiantasse, atiraria todos
sacada-a-baixo. Mas isso não o removeria do alcance dos meus
ouvidos. E já estou marcada: pois, uma noite dessas , tive companhia
para voltar a ser só.
terça-feira, 26 de fevereiro de 2013
Dear sailor,
Não há horas desde sua partida,
mas sinto que há meses aguardo o teu retorno. O mar que embalava meu sono com o
quebrar de suas ondas, agora arremessa meu coração às pedras e o afoga em sal
de lágrimas. Por que tivestes que partir? O que essas águas turvas lhe
sussurram e lhe oferecem que meu amor não lhe possa dar? Escolhestes navegar no
incerto e vasto mar aberto, quando tinhas toda a extensão de meu corpo para
desbravar. Dar-lhe-ia tempestades se assim desejasse, molharia com o sal de meu
suor a boca tua, o entorpeceria com a ressaca de minhas ondas... Mas são os
ventos do desconhecido que sopram e movem as tuas velas. Nunca fui teu porto e
é para outro norte que tua bússola aponta. Para meu amor, marinheiro, não há
ancoradouros. Apenas a iminência de um naufrágio.
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013
Dessa vez não recolherei as tuas
roupas ainda molhadas de suor que ficaram pelo chão do quarto. Se o fizer será
para que alcem voo por entre as casas andares abaixo. Estou cansada de limpar
sozinha toda a bagunça que vem com teus passos e se aloja por todo o meu quarto
e por dentro de mim. Chega de limpar sozinha toda a sujeira que teu gozo faz. Se
não assume a responsabilidade pela porra tua, não serei eu quem vai lavar
lençóis. Fica a vontade pra passar pela porta destrancada, mas antes de sair me
deixa um dinheiro na mesa. Se é pra me fazer de puta, ao menos faça o favor
pagar.
Obs. Agradeço imensamente a visita, mas me poupem dos
comentários preocupados ou consoladores. De vida real, nesse texto, só tem a
vontade de fazer ficção. It’s just a joke, baby. Just a fucking joke.
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